Minha experiência começou muito antes de partir, quando percebi que o desejo de realizar o Caminho de Santiago era maior que o medo de voar. Mergulhei nessa ideia e a partir daí tudo foi simplesmente acontecendo. Os detalhes foram confirmando que “Ele” estava comigo preparando o Camino.
Fui sozinha , para espanto de muitos e imensa preocupação de minha mãe. Ela fez questão de me ver “sair” e dar os primeiros passos no Caminho de Santiago. Fomos juntas até Tui e nos hospedamos “por acaso” no mesmo hotel que foi cenário do filme “The Way”. Foi mágico estar ali e relembrar aquele filme que muito me motivou.
Na manhã seguinte sai bem cedinho. Estava muito ansiosa, feliz, tranquila. Logo fui encontrando o “mundo” ao meu redor: Eslovénia, Áustria, França, Austrália , Alemanha, Coreia, Polônia ….Quando cheguei ao primeiro café fiquei espantada de como podíamos nos comunicar tão bem . Eu tinha apenas um inglês rudimentar com um pobre vocabulário. Comunicar é muito mais do que pronunciar palavras.
O dono do café gentilmente ensinava a todos que por ali passavam, como pegar o desvio para evitar o trecho do polígono industrial de Porriño. Gentilezas não faltaram desse povo da Galícia! Que terra linda e que povo generoso de coração.
A cada dia crescia o meu entusiasmo. Chegava cansada ao albergue. Tomava banho, lavava roupa, almoçava e de repente estava recuperada para passear pela cidade.
A cada dia caminhava com menos pressa, curtindo o som, o perfume, as cores, a natureza.
No que o caminho me modificou?
Aprendi a “estar” neste lugar, neste momento
Aprendi que o inesperado é bem vindo
Aprendi que a generosidade é contagiante
Aprendi que sempre temos a oferecer mais do que acreditamos
Aprendi que o Camino continua aonde estivermos
Para quem gosta de “dicas” de sobrevivência , ou de conveniência:
- calcinhas descartáveis, não viajo mais sem elas
- se seus pés estiverem desconfortáveis, vale trocar a bota por um sapato mais leve e continuar andando com mais cuidado e com menos pressa
- shampoo serve pra tomar banho, lavar o cabelo, lavar roupa: tudo em um
- uma vez precisei secar as meias. Não tinha secadora nem secador de cabelo. Usar meias molhadas jamais: usei uma frigideira! Fogo baixo e cuidado de virar o tempo todo. Deu certo.
- despachar a mochila um dia para caminhar mais leve, também vale a pena.
- planejar o próximo caminho: assim começa o retorno.
Bom Camino
Ultreya
Eliana Avelãs (no Caminho de Santiago)